sexta-feira, 15 de maio de 2015

ALGUÉM

Só sei ser o que sou. As verdades são as coisas que vivi e vivo. Entendo-me pelo sangue que corre em mim, passando por cada órgão que me realiza. Assim me veem os olhos nus que não questionam. Mas sou emoção frente a frente. Sou entrega de mim. Rei no mundo em que não vejo mais ninguém. E vou fazendo de mim o que os sentimentos mais puros me orientam. Entendo-me neste peito que me acumula. Entendo-me pelo que sinto.
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Imagem: A coluna partida - Frida Kahlo

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REMENDOS

Quando vejo que meu tempo está pra se esgotar, o futuro fica mais claro. A confusão em mim não sobrevive. São os dramas que guardo que me fazem ver que a tristeza é prescindível, porque nos meus dramas sou herói, sou vencedor e há um mundo em mim e um mundo em ti nesse mundo.
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Peço gritos aos vizinhos. Peço silêncio aos mais distantes. Quero apenas que em algum instante a direção seja minha, do meu jeito, sob minha voz. Assim poderei acender as luzes, abrir cortinas, ver da janela e tocar os mundos desse mundo.
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Gosto de combinar música, poesia e sentimento. A alma me encontra, me seduz, me invade. É com alma que removo estorvos, que remonto as armas. Sigo minhas fontes de bondade para espalhar nos mundos desse mundo.
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Vivo com a certeza de que nunca estarei sozinho. Meu futuro tem sorriso encantador e olhar doce. As palavras vêm fortalecendo aquele herói que vence os dramas, porque, quando amo, sou corpo, sou alma. Somos um mundo nesse mundo.


 Imagem: Colagens de Mauricio GarridoZupi

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A INVASORA E O ALVO

Por um instante, entendo que a felicidade invade, em outro, vejo que a felicidade espera. Desejo de todos os seres, vaga por aí, tocando e sendo tocada, procurando e sendo procurada. Eu tenho a felicidade em um sorriso e um olhar. Objetivo diário. Curvo meu olhar, para esconder o bobo que se constrói, ao sinal de reciprocidade. Aguardo cada palavra que me inspire vida, que me faça saudade intensa, na trilha da felicidade, esteja ela me esperando ou planejando me invadir.

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PALAVRAS

Quanto desse chão eu corro por seu aconchego, com lágrimas de saudade, tantas são as palavras que chegam para me construir. Quero ser pele, suor, saliva, misturando com você. Quero ser seu colo travesseiro cobertor sem datas. Sucessão de dias incontáveis. Cores. Flores. É a luz do seu olhar que compõe meus desejos. É o seu caminhar que me indica as setas. Reconheço-me em suas vezes. Eu sou suas palavras nas linhas que escrevo.

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O GRÃO E A MONTANHA

Os ventos espalham a poeira e separam os grãos. Só o vento tem desejo. As viagens vão se sucedendo e os grãos se embolam entre tantos, sem que seus quereres sejam relevados. A vontade é seguir junto àquele pedaço, cujo desprendimento da pedra original foi feito ao mesmo tempo. É ser pedra unindo-se aos muitos outros que se desprenderam no impacto. Mas o vento empurra, corrói, lima, dá nova tez ao grão. Outro universo, outros arredores. O grão se vê. Identidade. O grão é rocha. Ego. O grão é montanha.


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