quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

LEITURAS




Cruzar os braços é o mesmo que agredir-se, quando todas esperanças estão escapando e ainda estão ao alcance. Não me atrevo a sair daqui sem sonho. Não me permito. Não admito. Quando os elos que orientavam despedaçaram, ressurgiu o homem. Com mortes. Sem perdas. Mil anjos arrastam nuvens e harpas para apagar o incêndio e ensurdecer os demônios. Ouço a canção, me guarda, me embala. E acordo diante das portas que se abriram para as escolhas. Decifro versos forneço gestos golpeio tons. Meu medo não é refrão.

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

CARTA


Acende a luz do quarto, para acordar meu sorriso. 
Fez-se necessidade em meu caminhar, mesmo quando estive em meio a tantos. Desacompanhado aqui e ali, sou eu em mim e nos meus fantasmas. Minha multidão me resgata e força a falência da solidão. Os meus fantasmas se curvam à imponência dessa luz, à certeza de meus passos, à união de nossos sonhos. A saudade é nossa. Harmonia. Cumplicidade. Combinamos vida. E não me perco mais de mim, porque me encontro em você. Você é muito de mim. Você é minha multidão.

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

CORES DO BREU


Eu queria ser feliz, mas não abri a porta. Olhei de longe para mim, sem entender quem estava lá. E fui com os mesmos passos que me levam aos gritos, lendo os mesmos textos que me fizeram errar para aqueles que miram os erros. Não entendi os erros e permaneci nos acertos que me guiavam, fechado em mim, longe de mim.

Eu queria sorrir sincero longe de mim, como se os eus não se alimentassem de encantos. Quando as esquinas mostraram novas idas, deixei sonhos no percurso. E a minha timidez impediu que as flores fossem belas, que as noites fossem musas e que o sol fosse luz. Em mim, o mundo não me convence. No outro, o mundo é um parque.

Meu mundo me procura. O mundo me aceita. O sol, a noite, as flores tentam me acarinhar. Eu estou ali em qualquer lugar.

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terça-feira, 10 de abril de 2012

MÁQUINA VIVA



A insônia é a razão da agonia. As noites oscilam entre o belo e o inferno. As estrelas e os mistérios estão após as portas, por onde só entram as imaginações algozes. O corpo enfraquece e se deixa seduzir pelas dores. O ser, envaidecido por viver e apunhalado por sentir, espera a alvorada.

O trabalho é o descanso da insônia. As mais perversas sombras são vencidas nas lidas diárias. Estou entre ser máquina e ser humano. Humano para sentir, para fazer valer as naturezas, imaginar mundos, ver-se no outro em encantos e desencantos. E a máquina faz funcionar, ser útil aos processos produtivos da sociedade.

Parece até que o humano faz sofrer e a máquina faz viver. Mas a máquina depende desse humano sempre, e o humano deseja a máquina vez ou outra. A insônia é que não cessa e torna a máquina forte.
 
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segunda-feira, 19 de março de 2012

GRITOS DA ESCURIDÃO




O apagar das luzes pesa sobre mim. Meu passado me examina, enquanto os segundos vacilam em suas cadências. Vejo um tolo. Vejo um bravo. Estou só.


A serenidade pousa nos lençois, de olhos abertos para os pequenos traços que a escuridão autoriza. Esse diálogo reinventa a história, e a escuridão abraça a serenidade, como em laço de núpcia, como se a noite fosse dirigir a nave para o mesmo vácuo da explosão inicial. A serenidade se permite na invasão... e vai... volta... fecha os olhos para captar as ilusões a que o ser  se obriga.

Peço ao medo e à coragem o meu resgate; ao bravo e ao tolo, meus dias. Quero expulsá-los dali e conhecer meu sono. Gritam. Lacrimejo. Vejo a multidão naquele escuro. Estou só.

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terça-feira, 6 de março de 2012

SUPLÍCIO DA ROTINA


Meus sonhos não se resumem. Permanecerão inteiros em todas as jornadas, sob o crivo da excelência do tempo. Não envelhecemos enquanto estivermos juntos. E os passos seguem um ao outro. As noites, os dias, as lidas e os sonos ampliam enredos. O banco empoeirado e a lâmpada de mercúrio recriam o ermo da saudade.

Ali não tem a dose certa de temor, nem do uísque que incedeia a pena. Ali não tem o braço bravo da alegria reerguendo o reino. A luz clareia o túnel e reivindica o sol, no caminho que corta os destinos e não convence. E não escolhemos a estrada certa.

Não... não vou reescrever o enredo do meu sonho. Ombro a ombro, seguimos sem envelhecer, sem nos resumir.

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segunda-feira, 5 de março de 2012

DOMINGOS






Águas cintilantes do oceano, sol na moleira e parafina, sons de festa na posse da alegria e os cobertores me rodeiam. Os quartos são iguais, a não ser pelo cheiro ou endereço. A mesma escuridão, a mesma ingratidão desse espaço sem pulso, sem olhos, sem ouvidos. A luz de uma tela me faz ser alguém no mundo. Em outro mundo. No mundo dos outros. O meu mundo são quatro paredes, ou cinco, oito. São três ou quatro portas. Meu limite é uma porta. Eu fecho a porta. Construo minhas novelas, romances. Faço minha história de dor no que vivo resplandecer a alegria do que vivi e me transformar em saudade. Meu futuro é a dúvida. De tudo que faço, gosto apenas de ser o que fui. Não me vejo como quero. Nem os outros me veem como sou. Dizem que sou solidão. Eu digo que sou amor.

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CAVANDO CISMAS

Era a mesma rua, a mesma lua, a mesma crua imagem humana detida pelos prantos incontroláveis. Com a mesma doçura, pediu aos céus. Com a mesma bravura, olhou para a frente. Caminhou sem conter o pranto. Fez a última reverência, sentindo o cheiro da madrugada. Aceitou um abraço. Um beijo. Confirmou não ser sonho. Enfrentou o gosto da rejeição, como autoagredisse. Fingiu ser o mais amado dos homens. Riu sem conter o pranto. Era bom rir. Todos enxergavam o riso. O pranto não cessava, porque o sonho rejeitou a realidade. Era bom chorar.

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PEDRAS E PALAVRAS


Os ruídos ainda são os mesmos do naufrágio da dor nas lágrimas. As pedras atiradas no teto eram guiadas pelos exércitos de homens desapontados e silenciosos, que expulsavam suas insatisfações, como se fosse uma explosão de agonias. O silêncio arrenegou o orgulho. As insatisfações adentraram nas casas. A explosão atingiu inocentes que, com suas novas agonias, transformaram pedras em palavras. Pedras não são armas e sucumbiram à pólvora do exército de homens tolos. Os homens tolos não entendem palavras, nem pedras, e são manobrados contra eles mesmos. Os desapontados são novamente silenciados, até que as pedras sejam de pólvora e os tetos virem escombros.

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quinta-feira, 1 de março de 2012

DESCASO DO TEMPO


Quando a escolha reverenciou o futuro, não houve saídas para o passado. O passado não desdenha as etapas; se não define quem é, revela quem foi; desequilibra os agoras, caso falte as certezas. E o ser não apaga as linhas escritas pelo passado. É refém de seu outro eu. Quer não ser o que foi. Quer gritar outra história para satisfazer o presente. O algoz permanece intacto, naquele tempo inalcançável, e não muda a sua marcha em direção à memória. Fecha os olhos e ele aparece. Cala e ele está. O ser não escapa de suas incertezas. É refém de seu outro eu.


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FLORES AO TEMPO


O céu está cheio de perguntas daquele olhar perdido. A íris flor do destino refaz horizontes, mantém a caminhada. Tudo sufoca o corpo e não empolga a alma. Quase encontrou, quase negou, quase se arrependeu. Enquanto sonhava, se trancou no quarto e calou seus apelos. Seu peito é o alvo das incertezas. Por onde ir, onde ficar e onde chegará é a angústia das pernas finas e cansadas. Não houve um existir no outro. É só.


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NÃO TENHO


Como me defender do que não conheço? Foi o que seu pensamento perguntou à sua razão. Não há porque convidar a culpa para integrar seus instantes. Ele é a culpa. Ela destoa no baile. E qual a direção incerta, qual improviso correto? Quanto dele se esvai quando não responde a si? Ele cai, ela sai. É a solidão camuflada que a saudade rejeita. É a vibração de caos estendida no pesar. Quero apostar na felicidade, enquanto as cinzas não estiverem sob o tapete. Ele e ela se compensam. O destino cobra as multas. As vidas tecidas no amanhã recriminam as novas danças, porque ela destoa no baile. Ele é a culpa.


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CONSTRUINDO DRAMAS


E o oceano se fez vítima do rio, tentativa vã de adoçá-lo. Custou ao rio sua intimidade, o orgulho, a vaidade. Atirou-se inteiro no reservado oceano. Quisera alcançar de vez a profundidade, a beleza. O rio quis demais, insistiu demais. Negou-se a mudar de ideia e continuou rumando na mesma direção. Enquanto tiver força, o rio continuará com seu apelo repetitivo para ser parte do oceano. O oceano permaneceu com monossílabos, dissílabos, historinha ou outra e com seu salso inabalável. O rio, com seus dramas, provocou riso. O oceano é inalcançável demais para um rio.


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HOMEM DIREÇÃO


Eu esperei o sol durante a vida. Queria que ele visse meu olhar, minha admiração. Fui sua mão direita para escrever, esquerda pra tatear. Caminhei pisando forte com a perna esquerda, com ela afastei obstáculos. Indiquei curvas ladeiras esteiras escadas tapetes. Ao seu lado esquerdo. Destro que era, tilintava o alumínio com seus olhos agitados. E os olhos construíam mundos que eu não via, mas vivia em suas prosas. Os olhos que não enxergaram meu mundo. Fecharam. Não viram meu olhar... Eu espero o sol.

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HORAS DE ÂNSIA


Ela vê sombras. Ela vê nuvens e vive o frio no encalço do sorriso. Ela não dorme e não espanta a agonia. Seus olhos abertos anjificam meu sono, mas não me livram do pesar. Ela não sorri e eu choro sem lágrimas para ela não sofrer. As sombras e as nuvens não saem. Não há estrelas e parece que elas cairão. Eu sou ela neste extremo tormento. Eu sou ela na próxima canção de suicídio. Eu sou ela na incessante busca pelo sorriso.

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APENAS UMA NOITE


Fez das tripas coração, do coração suor, do suor grana. Juntou seus centavos. Juntou seus trapos. O cansaço virou riso. As sentenças desafiam os atos. Andou calmamente até a bilheteria. Cravou seus pés no mesmo chão que nutriu seus anseios. A cena se renova e os personagens se confundem. O herói junta as armas, caminha, a pele se aproxima. Os cabelos. O olhar. O passado adolescente, presente adulto. Indecente. Aquele corpo cresce diante de si. A grana conquista o que o coração não conseguiu. E ele deita com a mulher amada. Vítimas, vivem o que desejam. Beijos... Carícias... Orgasmos... Antes apenas olhares, agora a vida inteira. Antes apenas desejo, agora amor. E foi a noite inteira. Seriam duas... três... quantas ambos quisessem, se tudo fosse o querer. Mas o raiar do dia denuncia o retorno. E a grana é só de uma noite. Uma porta se fecha, o ciúme escapa. A cabeça abaixa. Ela fica no night club, ele vai à oficina. Ela torce pelo próximo encontro. Ele acalma as tripas, o coração, até que a saudade aperte novamente. O valente anônimo beija seu conforto e pensa: a vida lhe cobra o que ele não consegue pagar. A decente puta lamenta as lágrimas e pensa: a vida lhe cobra o que ela não consegue pagar.

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HOMEM MOVIMENTO


Ele saiu a cem por hora do estacionamento do supermercado, sem imaginar que a avenida estivesse deserta. Queria a curva fechada e a velocidade alta. Seu sonho com gasolina. Combustível da felicidade. Indústria de adrenalina. Poeira no asfalto da avenida. Duzentos por hora em 10 segundos. Laterais em linhas retas, cores inteiras, riscadas. Olhos firmes. Chegada rápida. Fim de gozo. Tontura. Cansaço por ter parado. O homem movimento não quer chegar. Joga video game com carros de corrida. Sonha com cheiro de gasolina e asfalto. Acorda no dois ponto zero soprando vida. E vai zoando. Zoando. Voando. Voando. Até perceber que precisa de asas.

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PORANDUBA DESIDRATADA


Os rios refrescam a respiração e confortam lavouras. Garantem a umidade necessária para vida em quilômetros alcançáveis. Eu rio antes do assoreamento.


A insistência das chuvas obrigam faxina na orla. Fecundando corrente, arrasta o lixo, para que o sol posterior brilhe em terra nova. Eu rio antes do assoreamento.


As árvores não estão mais próximas e e o leito fica incerto. O rio não dorme sossegado sem sombra e, cansado, é mutilado em riacho, em córrego.


O rio tenta se impor sobre a areia. O rio, que vence pedras, sucumbe à lama e vai dessignificando as pontes. Humanos respiram seco.


Rios de lágrimas são poças.

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O SORRISO E O VENDAVAL



Vendaval dissipa quando cansa.

As alvenarias descansam escombros. As águas parecem as lágrimas de tudo. Aço e concreto descasam e constroem outra paisagem que erige estranha. Humanos sentem que deveria ser diferente. Aquele frio passageiro parece interminável. Aquela dor momentânea parece mutilar. As vozes lamentam, correm pelos ecos indignados. Ninguém perguntou as verdades. As fraquezas derrubam as edificações.

Maria Clara menina, na esquina, sorri.

Vendaval dissipa quando cansa.
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ERMO IMPIEDOSO


Não luzem cometas, meteoritos, estrelas... lua... sol... e a trilha tem armadilhas. A matilha espreita. Os leões avançam. E quanto há de crueldade a transformar a cena. Sem as cores, não se vê o corpo sendo transformado, a lágrima ajudando as clemências, as sombras, os rubros. Apenas sons daqui e ali tentam garantir que a verdade ensine o agir. E não garantem. E não ensinam. Quantas palavras convencerão? Não é brincadeira. Tudo o que se sente é puro, verdadeiro. Não há artifícios. Sem cometas, meteoritos... estrelas... lua... sol... não pode ser visto.

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EM BUSCA DE ESTRELAS ( ou Eu vi um mundo)



Não basta que a luz esteja distante, ela busca outra direção. Revela os medos. O gelo passeia pelo corpo. As coisas passam. As decisões ameaçam... as vontades... as verdades.

As imagens incertas são descuidos da fraqueza. Não vejo a Baía de Todos os Santos dali daquele convento. Nem posso procurar pinguins do solar. Contar estrelas cadentes. A lua que foi o presente.

Luz pede palavras. Virá quando houver raios que expulsem a dor. Chegue como se fosse a próxima chance de sair daqui dessa explosão de lágrimas. Luz, entenda seu itinerário.

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NO CAIS DAS CIRCUNSTÂNCIAS



Se eu quis lembrar, não foi, por assim dizer, tão cinza. E se a retórica do assim vos convence, não me diz. Os sinais simbolizam ventura. Os ruidos harmonizam decibéis. O patchouli corre nas seivas. O andante, entre os becos, procura as fôrmas escondidas no breu para resenhar em versos sua nova história. As vistas estão obtusas entre o esmo e os ismos, jogando seus jugos nas encostas morais. A nova história é tão assim azul, que não alcança a eloquência errante. Está compendiando conseguir ser assim.

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OLHOS SOBRE OS VALES


Apesar de não ter vivido assim, foi de se atrever que se fez homem. Não se ouve daqui o sussurro. Nem se faz coro com dores. Foi das mãos que livraram as luzes e com as mãos as acenderam para que se vissem nos olhos do outro. As estradas não convencem os transeuntes. Quando os olhares atravessarem fronteiras, farão do riso o sabor do presente.

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