Tudo começou quando resolvi entender a paixão de Hitler por um compositor alemão. Por que um compositor, representante do Romantismo alemão, dono de uma sensibilidade artística que fez o rei da Baviera se curvar, inspirara um monstro da história da humanidade? Não entrarei na vida de Hitler, muito menos questionarei seus merecimentos ou sua monstruosidade, citarei apenas na pauta atual que qualquer excesso ideológico foi, é ou será erro. A imagem que construíram de Hitler pode ser pior do que a realidade, mas não se podem negar as suas mazelas.
Interessei-me de verdade, pela biografia de Richard Wagner. Admirei todas as músicas que escutei: Marcha Nupcial, Siegfried's Funeral March, The Flying Dutchman (todas essas nomenclaturas são da Internet, minha principal fonte de pesquisa sobre o assunto)...; contudo foi Ride of the Valkyries que me prendeu a atenção, repeti várias vezes, como costumamos fazer quando uma melodia martela nosso cérebro. Imaginei a agulha copulando o vinil e os médios da corneta soando essa música na década de 40. Fui mais distante e senti o cheiro do teatro madeirado do século XIX. Eles não tinham aparato eletrônico para tornar o som do teatro mais imponente, então as orquestras eram enormes. Tudo preparado para que o teatro vibrasse junto com a música.
O talento artístico desse compositor já havia feito Luís II se curvar. O rei da Baviera sustentou Wagner, que, antes das mesadas, vivia endividado. O imperador brasileiro Pedro II também se curvou e tentou trazer Wagner para uma apresentação no Brasil. Isso foi inviabilizado pelo envolvimento de Wagner com movimentos revolucionários ao lado de Bakunin, Röckel e Heubner (sobre esse envolvimento, foi o único que escapou de punição, num auto-exílio, aparentemente covarde). De todos os grandes admiradores da história universal, Hitler é o admirador principal, o mais lembrado.
Encontrei no Wikipédia:
Richard Wagner escreveu alguns ensaios anti-semitas e por essa razão, e pelo aspecto nacionalista de sua obra, sua imagem foi empanada no século XX pelo fato do nazismo tê-lo tomado como exemplo da superioridade da música e do intelecto alemães, contrapondo-o a músicos também românticos como Mendelssohn, que era judeu. O ensaio mais polêmico foi Das Judentum in der Musik, publicado em 1850, no qual ele atacava a influência de judeus na cultura alemã em geral e na música em particular. Nesta obra descreve os judeus como: "ex-canibais, agora treinados para ser agentes de negócios da sociedade". Segundo Wagner, os judeus corromperam a língua do país onde vivem desde há gerações. A sua natureza, continua Wagner, torna-os incapazes de penetrar a essência das coisas. A crítica era dirigida particularmente aos compositores judeus Giacomo Meyerbeer e Felix Mendelssohn, que eram seus rivais. Wagner insistia em defender que os judeus que viviam na Alemanha deveriam abandonar a prática do judaísmo e se integrar totalmente à cultura alemã. Apesar de, por essas razões, ser geralmente tachado de anti-semita, Wagner sempre teve amigos e colaboradores judeus durante sua vida inteira.
No fim de minhas leituras fica a dúvida. Eu não sei se Wagner era anti-semita. Acreditando nisso, acreditarei também que Wagner era mal-caráter e usava de qualquer artifício para se dar bem, já que ele mantinha amizade e relações de trabalho com judeus. Será que essa postura atribuída a Wagner não é fruto de algumas interpretações equivocadas? Wagner queria apenas agredir seus desafetos com seus textos, ou queria agredir toda uma etnia?
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