sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CADÊNCIA ATREVIDA



Não vi apagar a luz que se acendeu para um dia. Flores e frutos em desordem com as cortinas do ocaso. A água se resumira em nuvens e os galhos desnutridos adormeciam entre pedras. Os pés carregaram a poeira. A sirene interrompeu o sonho.

As desestruturas não são abaladas pelas matrizes enferrujadas. Entre meus eus se vão histórias. Entre o passado e o futuro, encontro-me comigo em mais um eu. Não se impedem os desencontros. Não se afloram reencontros. As estruturas são novas.

Dentre as cotas da orbe, os reis querem a cidade. Dentre as angústias das flores, os reis querem a beleza. Dentre as fraquezas humanas, os reis querem riqueza. Dentre todas as coisas, os reis querem felicidade. Sei, sem ser rei, que a felicidade sorri.

O amargo não fere. A imponência do dia-a-dia é uma exigência do futuro. E o novo parece velho.

As trilhas são o distanciamento da sirene. Os sonhos não serão interrompidos.
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QUATRO CANTOS DE SONHOS INVIOLÁVEIS


Novas circunstâncias entortam as pautas. O novo enredo é velho tormento. As chegadas me esvaziam. Quanto devo ser, enquanto me desentender, está proporcional ao que vou fazer no meu mundo e no mundo do outrem.


Os sonhos iniciados nos segredos de um olhar ao nada não são vividos isoladamente. Os sonhos não são tortos.

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Na fuga dos espinhos, a rosa se chocou com a mão. De pétala em pétala, tentando resistir, ela se transformou em gotas de um vinho acre. Assim atraiu o desejo. Assim fez cair em riso pueril. Fatal. Fetal.

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Sopraram fragrâncias para cá. Busquei em sóis e luas, em flores e corpos, em sombras e acasos... Só pude encontrar comigo. E nem tentei me esconder de mim. Foram os passos, os traços, as graças que me impuseram uma via. Caminho. Vou. Estarei. Mais algumas luas, entenderei. Mais alguns flagrantes, reiniciarei.

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Os encontros explodem em coincidências, acasos e destinos. Quem não sonhou perdeu seu compasso. Quem não reuniu perdeu-se do mundo. Quem não se isolou perdeu-se de si. E não esteve em um dos quatro cantos gritados na estrofe.

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O SOL SEM REINO VIRA SÚDITO

E, enfim, o súdito pôde ser...

A rainha converteu nuvens
em céu de luar estrelado.
Abriu mares onde
não se podiam navegar.
Fez música quando
forçaram silêncio.

Quando o doce suavizou,
aeronaves foram
estrelas cadentes...
E todos os pedidos se realizaram.

O súdito, desde então, existe.

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ANEDOTA COM SCOTCH NO GABINETE


Quando os primeiros raios solares o iluminaram, ele era o mesmo operário implorando um olhar. Dedicar-se sempre foi obrigação. Contentamento é estabilidade no emprego. Sempre fez jus a elogios. A única atenção foi por erro de inexperiência.
Quando os primeiros vales credores o especularam, ele era o mesmo operário tateando tecidos. As horas consomem. Dores do agora. O talvez do amanhã é agouro do outro. A mesma biografia de outrora em nova geografia. O limpo se faz inútil. O ser do ser perece frente ao crer no ter. O homem tem que ser máquina.

Quando os primeiros ares de revolução o contaminaram, ele era o mesmo operário implorando por um ouvir. Debates. Leituras. Conjecturas. Leituras. Ações, enfrentamentos. Subversões. Quanto mais seu discurso se tornava original, era mais perigoso, era mais importante. Prescindível. Fundamental. Mudança isolada é loucura social.

Quando os primeiros lapsos de confiança o impregnaram,, ele era um operário farejando soluções. O conforto mutila a classe. A luta camufla a farsa. O direito é piso falso. O discurso coletivo não convence. As conquistas pessoais são poderosas. E não há mais.

Quando os primeiros golpes de traição o atingiram, ele era um ex-operário implorando sabores. A consciência provoca isolamento. O único discurso indefectível da pecúnia. Incontestável. O cruel lado oposto é ladeira abaixo. Verdade ilógica nos canais de comunicação! Loucura sábia sob os viadutos!

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

LAPSO DE SORTILÉGIO


Avisaram que a noite chegaria rápido. Pensou se viria a escuridão ou as estrelas. O baile era longo. Descortinou sua janela voltada para o futuro e não enxergava horizonte. Mesmo assim, começou seu caminhar em busca de um não sei o quê que nunca encontra e não pára de buscar. Aceitou e cumpriu a rotina. Seguia os passos de sempre e deparou-se com a pele morena, com os cabelos cacheados. Depois foi flor no jóia. A flor disse desde que. O jóia disse assim. Ela falou em luar. Ele insistia em números. E encaixaram seu olhares, vislumbraram enxovais e calcularam fins de semana. Sorria sentada; em pé, manquejava. Sorria sentado; em pé, desertava. Disse que a noite chegou rápido e não ouviu que os bons momentos faziam esquecer o tempo. Antes de retornar para a linha reta, passou pela festa. Distraiu-se com o tiro ao alvo da esquina. Engoliu litros de própria saliva. Ainda caminhou sem colher pedras pelos sapatos. Percebeu um x ao olhar pra trás e não pesou calcular. Contemplou mais uma vez sua janela sem horizonte. O poste em frente apagou.

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CÓDIGOS DO ACASO


Empreste-me seu céu, seu sol, suas sombras.
Permita-me ser aquilo que você nunca quis revelar.
Reerga seus véus e seus nós.
Reviva seus medos.
Verter músculos em consciência
é tentar amar sem perder o engano,
é transformar lavoura em família
e se firmar em uma ilha
afastada dos tiranos,
resistente a carência.
E não vou entender amor com lágrimas,
se não traduzir alegria.
Pois seu céu de desejo
com a luz fecunda
construirão sob seus pés
o espectro do viver.

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

NÃO É PROIBIDO SONHAR


Passando um dia, por qualquer lugar, li, pintado em algum muro, com letras trêmulas de traço inseguro, a frase: "temos sonho". Pensei em filmes, obras de arte. Pensei em mim, no ser humano. Como os seres humanos caminham fácil para a desumanização e se distanciam dos sonhos. Por não se permitir sonhar, vislumbrar um mundo perfeito, os seres humanos não querem as metáforas das grandes obras de arte, nem acreditam na bondade humana.

Após ler a frase, vi que se tratava de uma poesia. Desejei sinceramente, escrevê-la no muro de minha casa e visitar tantas outras casas para que todos escrevessem. Em minha cidade, todos teriam sonho e não se curvariam fácil a essa realidade. As pessoas gostam de "que seja doce", frase de Caio Fernando Abreu. Eu gosto da frase "temos sonho". Sonhei com minha cidade sonhando. Superando essa máxima, ou mínima, de que é proibido sonhar.

Temos sonho, frase de Dona Tonha. Entrei em sua casa para que ela me permitisse usar sua frase que agora é minha. Falei-lhe sobre Huxley e conteúdos similares aos parágrafos anteriores. Perguntei-lhe qual era seu sonho. Ela me disse que não conhecia outro, já tinha até ouvido falar, mas o sonho dela era aquele preto, com açucar em cima e goiabada no meio.

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

NO GRAMOFONE DO REICH




Tudo começou quando resolvi entender a paixão de Hitler por um compositor alemão. Por que um compositor, representante do Romantismo alemão, dono de uma sensibilidade artística que fez o rei da Baviera se curvar, inspirara um monstro da história da humanidade? Não entrarei na vida de Hitler, muito menos questionarei seus merecimentos ou sua monstruosidade, citarei apenas na pauta atual que qualquer excesso ideológico foi, é ou será erro. A imagem que construíram de Hitler pode ser pior do que a realidade, mas não se podem negar as suas mazelas.

Interessei-me de verdade, pela biografia de Richard Wagner. Admirei todas as músicas que escutei: Marcha Nupcial, Siegfried's Funeral March, The Flying Dutchman (todas essas nomenclaturas são da Internet, minha principal fonte de pesquisa sobre o assunto)...; contudo foi Ride of the Valkyries que me prendeu a atenção, repeti várias vezes, como costumamos fazer quando uma melodia martela nosso cérebro. Imaginei a agulha copulando o vinil e os médios da corneta soando essa música na década de 40. Fui mais distante e senti o cheiro do teatro madeirado do século XIX. Eles não tinham aparato eletrônico para tornar o som do teatro mais imponente, então as orquestras eram enormes. Tudo preparado para que o teatro vibrasse junto com a música.

O talento artístico desse compositor já havia feito Luís II se curvar. O rei da Baviera sustentou Wagner, que, antes das mesadas, vivia endividado. O imperador brasileiro Pedro II também se curvou e tentou trazer Wagner para uma apresentação no Brasil. Isso foi inviabilizado pelo envolvimento de Wagner com movimentos revolucionários ao lado de Bakunin, Röckel e Heubner (sobre esse envolvimento, foi o único que escapou de punição, num auto-exílio, aparentemente covarde). De todos os grandes admiradores da história universal, Hitler é o admirador principal, o mais lembrado.

Encontrei no Wikipédia:
Richard Wagner escreveu alguns ensaios anti-semitas e por essa razão, e pelo aspecto nacionalista de sua obra, sua imagem foi empanada no século XX pelo fato do nazismo tê-lo tomado como exemplo da superioridade da música e do intelecto alemães, contrapondo-o a músicos também românticos como Mendelssohn, que era judeu. O ensaio mais polêmico foi Das Judentum in der Musik, publicado em 1850, no qual ele atacava a influência de judeus na cultura alemã em geral e na música em particular. Nesta obra descreve os judeus como: "ex-canibais, agora treinados para ser agentes de negócios da sociedade". Segundo Wagner, os judeus corromperam a língua do país onde vivem desde há gerações. A sua natureza, continua Wagner, torna-os incapazes de penetrar a essência das coisas. A crítica era dirigida particularmente aos compositores judeus Giacomo Meyerbeer e Felix Mendelssohn, que eram seus rivais. Wagner insistia em defender que os judeus que viviam na Alemanha deveriam abandonar a prática do judaísmo e se integrar totalmente à cultura alemã. Apesar de, por essas razões, ser geralmente tachado de anti-semita, Wagner sempre teve amigos e colaboradores judeus durante sua vida inteira.

No fim de minhas leituras fica a dúvida. Eu não sei se Wagner era anti-semita. Acreditando nisso, acreditarei também que Wagner era mal-caráter e usava de qualquer artifício para se dar bem, já que ele mantinha amizade e relações de trabalho com judeus. Será que essa postura atribuída a Wagner não é fruto de algumas interpretações equivocadas? Wagner queria apenas agredir seus desafetos com seus textos, ou queria agredir toda uma etnia?

Entre o que pensamos e o que está escrito, prefiro admirar a obra desse excelente compositor da música mundial. As coisas que ele diz têm importância mínima diante da música que ele ofereceu ao mundo. Em vez de pegar o papel para entender as palavras de Wagner, leva-se o disco ao gramofone, à vitrola, à radiola, ao cd player... pega-se o arquivo e leva-o ao music player. A seus ensaios, artigos, sugiro a pira. Sem letra, Wagner é imortal.


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Ku Klux Klan no futebol brasileiro?






Sempre achei injusta a fórmula do campeonato brasileiro com 20 times apenas. O Brasil não poderia estar sendo igualado a Itália ou Inglaterra, países que têm quantidade de times igual a São Paulo. Se tivéssemos a mesma política deles e incluíssemos o Intermunicipal como futebol profissional, entraríamos no mesmo nível também com o nosso campeonato baiano.

Estava vendo que os Estados brasileiros estão representados nos 60 melhores times do Brasil da seguinte maneira (antes da decisão sobre o América/AM):

1. São Paulo 13 times
2. Rio de Janeiro 06 times
3. Minas Gerais 05 times
4. Santa Catarina 04 times
5. Rio Grande do Sul 04 times
6. Ceará 04 times
7. Paraná 03 times
8. Goiás 03 times
9. Pernambuco 03 times
10. Bahia 02 times
11. Alagoas 02 times
12. Rio Grande do Norte 02 times
13. Pará 02 times
14. Distrito Federal 01 time
15. Acre 01 time
16. Paraíba 01 time
17. Mato Grosso 01 time
18. Amazonas 01 time
19. Tocantins 01 time

Sem o fortalecimento dos Campeonatos Estaduais, alguns estados brasileiros deixarão de ter futebol profissional. E não tenho ideia de como um time do Amapá, por exemplo, pode se profissionalizar.

Considero a fórmula de classificação por campeonatos estaduais, como era feito na década de 80 por Giulite Coutinho, uma fórmula mais justa, mais democrática. Claro que a forma como era trabalhada era meio atrapalhada, mas, em vez de aperfeiçoar aquela proposta, houve um abandono em nome do que Paulo Cerqueira classificou como a Ku Klux Klan do futebol brasileiro: o Clube dos 13.

Nos números apresentados, podemos perceber o quanto o futebol baiano enfraqueceu. Pior que isso, o futebol baiano perdeu muito o potencial de revelação de jogadores. Acho que se essa fórmula atual fosse adotada na década de 80, jogadores como Naldinho, Bobô, Zanata, Sandro, Osmar, Washington, Oséias, Nunes, não teriam passado pelo futebol baiano antes de ir aos outros centros. Algum empresário os levaria direto pras outras bandas. Sei que aí entra o lance da Lei Pelé, mas alguns empresários, com certeza, se interessariam por Galícia, Fluminense de Feira (nome fudido da zorra), Vitória da Conquista, se o nosso campeonato estadual fosse forte. O que podemos observar é que nem Bahia e Vitória interessam aos empresários de jogadores, enquanto disputam o campeonato estadual.


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